Os jovens "indignados" querem exactamente o quê? Não se percebe. Ficámos apenas a saber que não gostam da troika e dos bancos, esses pulhas. Mas, como veremos já a seguir, estes jovens são absolutamente dependentes dos bancos, do crédito, dos mercados e demais tralha que tanto criticam. Hoje em dia, um pulha conservador/reacionário/fascista/neoliberal/benfiquista (riscar as opções erradas; ou então pode não riscar nenhuma, que não faz mal) é que defende, coitado, um modo de vida afastado dos perigos do crédito e da banca. E explico porquê.
Vamos lá ver uma coisa: um jovem adulto precisa do quê para sair da casa dos pais, para iniciar uma vida adulta? De uma casa e de um emprego. Bom, sobre a casa, não vejo nada da parte dos "indignados". Será que querem viver para sempre na casa dos pais? A noção de vida adulta destas pessoas é viver na casa dos pais enquanto estoiram o ordenado em ipads e borgas? Ainda não vi uma linha ou uma tarja sobre a lei das rendas, essa enormidade que lixou - para usar algo publicável - esta geração, a minha . Nada. Será que querem continuar a viver num país que depende do crédito para a habitação? Se assim for, estes jovens são, na verdade, velhos. Se assim for, estes jovens têm a mentalidade dos seus pais. Se assim for, estes jovens defendem um modo de vida que depende dos bancos e do crédito. Se assim for, estes jovens ainda não perceberam uma coisa: ser realmente subversivo é defender um modo de vida que não passe pelo crédito à habitação.
E sobre o emprego? Bom, parece que um senhor da manif disse o seguinte: "estou indignado, porque o estado não dá um emprego ao meu neto que é doutor". Porreiro, pá. O estado está na bancarrota, porque já tem demasiados dependentes, e esta boa gente quer ainda mais funcionários públicos. Que porreiro. E que tal lutar por uma economia com mais liberdade? Metade daqueles jovens (e estou a ser cauteloso) tem iphones e macs, ou seja, metade daqueles jovens deve idolatrar Steve Jobs. Pois, claro: idolatram um efeito (Jobs) mas desprezam as causas. Steve Jobs é o produto de uma sociedade e de uma economia realmente livres. A lei laboral que rege a Apple nos EUA seria considerada "fascista" por aqueles jovens portugueses. Ora, mais uma vez, as aspirações dos "indignados" indicam uma dependência da banca e dos mercados. Porquê? Simples: os gastos do estado português são garantidos, em grande medida, pelo endividamento junto da banca internacional e, agora, junto da troika. Porquê? Porque existe um enorme abismo entre a receita fiscal e a despesa pública. Portanto, quando pedem "emprego público", estes idosos com 30 anos estão a pedir ainda mais banca, ainda mais mercados, ainda mais dívida. Nada mau para quem passa a vida a xingar a banca, e os mercados e a troika.
Moral da história? Estes jovens são bastante velhinhos. Não percebem, ou não querem perceber que 2011 não é 1980, não querem perceber que não podem ter o modo de vida dos seus pais. E sabem o que é ainda pior? Estes jovens vão acabar por emigrar para países que têm leis e práticas que eles consideram "fascistas" ou "neoliberais". Vão acabar por emigrar para a Alemanha "neoliberal", para a Holanda "neoliberal", para a Suécia "neoliberal" e até para a Irlanda "neoliberal", que já está a crescer.
Henrique Raposo (www.expresso.pt)
8:00 Segunda feira, 17 de outubro de 2011
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