Quantas vezes já lhe aconteceu não acreditar no que uma pessoa lhe está a dizer, apesar do discurso claro e da aparente simpatia? É como se algo não encaixasse, lhe soasse terrivelmente falso. Mas o contrário também é verdade: pessoas à primeira vista atrapalhadas transmitem-nos uma energia positiva, uma confiança e honestidade que nos encorajam a conhecê-las melhor.
A comunicação não verbal pode contradizer as palavras. Isso acontece quando aquilo que dizemos é diferente do que realmente sentimos. A verdade está precisamente nos gestos involuntários do rosto e do corpo, que reflectem aspectos da personalidade, manifestam emoções e pensamentos.
“A linguagem corporal é uma reflexão para o exterior do estado emocional de uma pessoa”, escrevem Allan e Barbara Pease, duas referência no estudo da comunicação não verbal, no livro Linguagem Corporal (Bizâncio). Assim sendo, asseguram que cada movimento ou gesto pode constituir um valiosíssimo indicador de uma emoção que se experimenta. E exemplificam: “A pessoa que se sente receosa ou defensiva poderá cruzar os braços, as pernas, ou ambos.”
Reacções instintivas, os gestos podem dizer-se reflexos da alma. O psicólogo e psicoterapeuta Alexandre Nunes de Albuquerque chama-lhes “sintomas não patológicos” da existência de uma dimensão inconsciente que vive dentro de cada um de nós e é paralela a uma outra que permanece muito mais cristalina. “A dimensão daquilo que conhecemos de nós, o nosso consciente, muitas vezes não é suficientemente vasta para conseguir controlar o que não sabemos, o inconsciente – um mundo que passa por desejos ocultos e reprimidos. Então surgem os sinais, que tanto podem ser um tique como o rubor, entre outras coisas.”
No entanto, nem tudo é o que parece no mundo dos gestos. Ou melhor, para ler a mensagem com rigor é preciso critério. Usar a “chave” certa, como afirmam os especialistas norte-americanos, e que “reside na compreensão do estado emocional da pessoa, enquanto se ouve o que ela diz e se o-bserva em que circunstâncias o faz”.
Um dos erros mais graves que se podem cometer no campo da linguagem corporal é precisamente o de interpretar um gesto isolado de outros gestos ou circunstâncias. “Coçar a cabeça pode significar uma série de coisas diferentes – suor, certeza, esquecimento ou mentira –, dependendo de outros gestos ou circunstâncias. Como qualquer linguagem falada, a corporal tem palavras, frases e pontuação.”
De todas as partes do nosso corpo, o rosto é o que é mais usado para encobrir a mentira. Sorrimos e piscamos os olhos na tentativa de encobrir o que realmente sentimos, mas, no final, os gestos denunciam-nos. “As nossas atitudes e emoções são continuamente reveladas no nosso rosto, e na maior parte do tempo não nos apercebemos minimamente delas”, dizem Allan e Barbara Pease. A mente subconsciente age automática e independentemente da mentira verbal e isso vê-se no rosto, portanto.
Em matéria de leitura do inconsciente, as mulheres revelam-se mais astutas que os homens. “Têm uma capacidade natural para detectar e interpretar sinais não verbais e ‘olho clínico’ para pequenos pormenores.” Daí, a desígnação intuição feminina. Esta clara capacidade de avaliação feminina está cientificamente provada. Fica a dever-se ao facto das mulheres possuírem entre 14 e 16 áreas do cérebro consagradas à avaliação do comportamento dos outros – no caso dos homens, são quatro a seis.
Isto concorre para, que as videntes sejam maioritariamente do sexo feminino. Mas, afinal, como é que elas sabem tanto? “Porque ficam activamente atentas à comunicação não verbal: à expressão facial e das mãos, aos olhos e aos movimentos do corpo”, observa Alexandre Nunes de Albuquerque.
O casal Pease lembra que muitos praticantes da “leitura a frio” não têm consciência das suas capacidades para ler sinais não verbais, de forma que se convencem a si próprios de que possuem mesmo capacidades psíquicas.
Descodificar este tipo de linguagem colocando-a ao serviço dos indivíduos e da sociedade é também a tarefa de alguns profissionais. Por exemplo, os agentes da autoridade estão particularmente atentos aos conteúdos não verbais que ocorrem durante os interrogatórios. O mesmo acontece nos consultórios de psicanálise, onde os especialistas avaliam não só o que é dito mas também o que não o é. “Nestes casos, são levadas em atenção as falhas e os lapsos de linguagem do paciente, as suspensões e outros sinais”, explica Alexandre Nunes de Albuquerque, sublinhando que, em clínica, as mensagens não verbais, inconscientes, são tão importantes como as conscientes. Têm a mesma importância que as palavras. Gestos e emoções estão directamente ligados. Cada uma delas é expressão de uma parte do indivíduo.
Porque os gestos são revelações da alma, é muito difícil controlá-los. Só mesmo os bons actores e os agentes secretos são capazes de convencer os outros relativamente a uma mensagem da qual discordem inconscientemente. Afinal, ambos aprenderam e estão treinados para controlar as emoções.
Segundo estes especialistas, apesar da importância dos sinais como fonte de verdade, a maior parte das pessoas não tem noção deles nem do seu impacto. “Continuamos obstinados com a palavra falada e a nossa capacidade de conversar”, dizem, lembrando que ler as atitudes e pensamentos através do comportamento foi o sistema de comunicação original.
Os 7 segredos da linguagem corporal atractiva Resumo dos sinais essenciais para causar uma impressão positiva nos outros em termos de linguagem corporal, segundo Allan e Barbara Pease, na obra Linguagem Corporal (Bizâncio): 1 Rosto: tenha um rosto animado e torne o sorriso parte do seu repertório habitual. Assegure-se que exibe bem os entes. 2 Gestos: seja expressivo, mas não exagere. Mantenha os dedos fechados quando gesticula, as mãos abaixo do nível do queixo, e evite o cruzamento de braços ou pernas. 3 Movimentos da cabeça: utilize acenos triplos ao falar e inclinação da cabeça ao escutar. Mantenha o queixo virado para cima. 4 Contacto visual: estabeleça a quantidade de contacto visual que faça toda a gente sentir-se confortável. Excepto se olhar para os outros constituir uma proibição cultural. 5 Postura: incline-se para a frente quando escuta; sente-se direito quando fala. 6 Território: aproxime-se tanto quanto se lhe permita sentir-se confortável. Se a outra pessoa recuar, não volte a avançar. 7 Espelhamento: espelhe subtilmente a linguagem corporal dos outros. |
Os gestos de atracção e as manifestações de cortejo são outras das especificidades da linguagem não verbal. “A linguagem corporal é uma parte fundamental do ritual de cortejo, pois revela o quão disponíveis, atraentes e prontos, entusiásticos, sensuais ou desesperados estamos. Embora alguns sinais de interesse sexual sejam estudados e deliberados, outros são com- pletamente inconscientes”. E lembram que enquanto na maioria dos mamíferos é o macho que “se ‘veste’ para impressionar as fêmeas menos coloridas”, nos seres humanos, são as mulheres “que se encarregam de grande parte da publicidade sexual, decorando-se com roupa colorida e jóias, e pintando os rostos”.
Segundo os Pease, o ritual do cortejo realizado pelos seres humanos não é muito diferente do de certas espécies de aves, em que o macho se exibe à volta da fêmea, “esticando as penas e executando muitos movimentos complexos com o corpo”. O flirt humano envolve sequências de gestos e expressões muito semelhantes. Monica Morre, especialista na área da Psicologia Comportamental, catalogou cerca de meia centena de sinais que ocorrem durante o flirt, onde se destacam o ruborizar e o brincar com o cabelo.
Seja como for, em matéria de flirt quem comanda as operações é o sexo feminino. Segundo Allan e Barbara Pease, “as mulheres dão início a 90 por cento dos flirts, mas fazem-no de forma tão subtil que a maioria dos homens pensa que são eles que estão a conduzir o processo”.
Aliás, “os homens sentem dificuldade em interpretar os indicadores mais su-btis lançados pela linguagem corporal feminina, e os estudos mostram que têm tendência a confundir atitudes amigáveis com interesse sexual”, escrevem, sublinhando que tal se justifica pelo facto deles possuírem 10 a 20 vezes mais testosterona do que elas.
Mas os gestos como as palavras podem ser ambíguos. Alguns sinais podem mudar de cultura para cultura, tal como a linguagem verbal. Assim mesmo, em geral, a linguagem corporal acaba por ser comum à maior parte do mundo. “As diferenças culturais colocam-se especialmente em relação ao espaço territorial, ao contacto visual, à frequência do contacto físico e aos gestos de insulto”, comentam Allan e Barbara Pease. De qualquer forma, e porque a interpretação errada dos gestos pode provocar resultados se não embaraçosos pelo menos algo cómicos, os especialistas norte-americanos sugerem que, antes de fazer qualquer juízo, deve-se ter em conta a origem da pessoa.
fonte: por Júlia Serrão
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